Foto e biografia: http://www.tribunadonorte.com.br/
JAIRO LIMA
( Pernambuco – Brasil )
( 1945 - 2018 )
Teatrólogo, poeta e publicitário, Jairo Gonçalves Lima nasceu em 1945, em Arcoverde, de onde saiu para fixar residência no Recife e para trabalhar na área da publicidade.
Foi autor de peças premiadas nacionalmente, como "Canção de Fogo", e "A Entrada de Lampião no Inferno". O seu teatro possui como ponto de partida manifestações da arte popular nordestina. Na década de 1970, dizia buscar "um código de comunicação específico ou uma linguagem teatral brasileira". Destaque-se que Jairo também era poeta dos bons e, em abril de 2000, lançou no Recife o "Livro das Árias e das Horas & Pequeno Livro das Nuvens", seu primeiro livro de poesias.
Há alguns anos, Jairo decidiu morar em Natal, onde abriu a loja Kriterion (que funcionava no Mercado de Petrópolis), especializada em livros novos e usados – algumas raridades – e onde se cultuava, além da literatura, a boa gastronomia e a amizade. O fechamento da Kriterion e o retorno de Jairo a Pernambuco (onde adoeceu gravemente) entristeceu muitos amantes dos livros nesta cidade já tão carente dessa oferta qualificada.
Pensando bem..
Não mais irei sofrer
Quis isso outro dia
Mas passado o querer
Noutro dia já sofria
Pude assim aprender
Nem tudo evitaria
Daí, passei a dizer:
Ser a dor o meu guia
Se com ela conviver
Na perfeita harmonia
Contrário do que morrer
Na mais tola rebeldia.
As águas de tua hora
clara senhora
atenta aos cristais que eriçam espumas
no torso oblíquo de marés encarnada em lumbre
clara senhora
consorciado em sua rosa os ventos encenam calmarias
geométricos nadas
senhora clara
que das águas faça aguara alumiada espia da amurada e
circunda
os ferros da ampulheta crava nos temas que ainda não são
palavras
senhora clara
ali onde as lobas bebem o rio e os ciganos afundam os
seus cantis
ali é longe e, depois dali, a planície dormente das dálias
ali a água arqueja o dorso e salta sobre telhados em febre
que colhem,
queimam e explodem as águas
névoas fazem nuvens, que se fazem teto, que se fazem
água
clara senhora os teus olhos a fria água navalha
lendas de água vivas afogam tua cintura — vaga após
vaga —.
Cio da lua
Fui à beira do rio
Voltei meio pingado
Talvez estava no cio
Parecia-me excitado
Antes o que era vazio
Acabou bem ocupado
Aquele foi um desafio
Que deixou relaxado
Era noite de vento frio
E dum céu muito estrelado
No leito suave e macio
Deitei-me meio cismado
Foi quando o assovio
Dum pássaro assustado
Acordou-me com o desafio
De saber do sonhado
E até hoje nesse rio
Não sei se fui amado
Ou se foi banho sadio
Sob um céu enluarado.
O porto da tua hora
em teu vértice se arrima mar de espuma rija
águas íntima te espreitam do abismo — Olho mira
peles de alga doce mansa desbastam a arquitetura do pó
a tarde, viva em suas brasas, deixa tintas sobre a lá de
planícies e colinas
já pode ser manhã
ensina a Luz às pedras ressentidas — o Calor abriga o Sono
da loba
músicas mágicas tracejam a Dor — ainda hoje — a hora
aflita
desejo convoca o Pássaro ao pátio das Nuvens —
vindo tão-somente de ti a Voz, não mais querer, somente
Luna iminente
canta em Timbales Sinos Corais Pandeiros plenas notas
verdes — Agonia
diz ao Outro que se cale. A tua cor se esvai em sangue.
o porto da tua nave já não mais é ontem.
É luz. É dia.
Terra sem sombras. A Loba, exânime, fecha os olhos e faz
de suas trevas
elegia.
Pandeiros, timbales, luzeiros, te consagram o Hoje.
Mar de cinzas. Maré morta. Maresia.
PROCURE SE O MELHOR
Se o sol não podes ser
Dê-se o brilho no amor
Se tudo não podes ter
Valorize o que a ti é provedor
Se tudo não podes reverter
Já basta amparar um sofredor
Se algo não achas merecer
Suporta sem algum temor
Se algo um dia te abater
Pede ajuda ao Senhor
Se a traição te ocorrer
Não adoeças tal um vingador
Se ninguém te enaltecer
Silencia com teu valor
E se a quem ama perderes
Não sofras por desamor
Já no dia que venceres
Lembras-te-ás dos dias de dor
*
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Página publicada em maio de 2022
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